quarta-feira, 2 de outubro de 2013

A propósito de um cartaz numa Agência de Viagens alemã, em Karlsruhe...


 
Este sarcástico (e cáustico!) cartaz é porventura cruel, é obviamente simplista e pode até considerar-se malcriado mas, no essencial, é bem verdadeiro!
 
 
E enquanto não assumirmos esta verdade profunda, não compreenderemos nada de nada: o suposto "Progresso" português desde 1986 (e suponho que também o grego) assentou, básicamente, em toneladas de Marcos alemães (e Francos franceses...)!
 
 
Quase tudo o que adquirimos desde a entrada na então CEE - as reformas chorudas no Estado e as auto-estradas e pontes do Cavaco, os Rendimentos Mínimos Garantidos, os Estádios de Futebol e os "Metros" do Guterres, o laxismo governativo e o euforismo consumista e irresponsável do Durão e do Santana, bem como as roupas de marca, os tele-móveis, os SUV's, as PSP's, os "plasmas", as casas próprias e as férias na Tailândia (e etc.) do Sócrates (e não só...), mais o colossal rega-bofe de decénios consecutivos na Madeira e também, não o esqueçamos, todos os Poli-desportivos, as Bibliotecas, os Auditórios, os Quartéis de Bombeiros, a estatuária das rotundas, os Parques Urbanos e Ciclovias e os "passeios dos alegres" de idosos nas Autarquias (PSD, PS e CDU!) - são fruto de uma descarga colossal de verbas comunitárias em Portugal, NÃO o resultado nem do trabalho honesto (de que aliás os portugueses são comprovadamente capazes, sobretudo na diáspora), nem do investimento produtivo (continuadamente errático e guloso, já desde os labregos fenómenos tipo-JEEP - Jovens Empresários de Elevado Potencial - e Thierry Roussel...), muito menos da Inovação e da suposta Modernização do País e do Estado, que pouco passaram de cosméticas e conjunturais, ao sabor de modas e tendências momentâneas, porém sem efeitos duradouros, nem motivações ou ambições verdadeiramente estratégicas.
 
 
E tudo isto por culpa(s) de quem? De muitos - de quase todos: governantes e legisladores pífios e corruptos, banqueiros e construtores civis insaciáveis, consumismo popular doentio, demissão cívica dos intelectuais e "notáveis" da nossa pobre Sociedade...
 
 
Não culpem é os contribuintes europeus, em especial os alemães! Não culpem a Siemens, nem a BMW, ou a Mercedes! Eles fizeram a sua parte, nós é que não cumprimos a nossa, à excepção do Serviço Nacional de Saúde e do bem sucedido investimento no Ensino público (o que, sendo muito positivo, não chega...).
 
 
Eles só têm "culpa" (se é que a têm) de uma coisa: de pelos vistos não "perceberem" por que razão supostamente não funciona noutros Países (Portugal, por exemplo) o que com eles "funcionou". Se é mesmo assim como diz AQUIHelena, haja então algum Médico caridoso que lhes explique, pacientemente, que um mesmo diagnóstico, em pessoas muito diferentes, não conduz necessáriamente, antes pelo contrário, a terapêuticas semelhantes! Como é certamente óbvio para quem tenha dois dedos de testa...
 
 
Cometeram-se muitos erros em Portugal (também) desde 1986, sim, fruto de muita coisa que todos nós bem conhecemos, mas nem sempre temos em conta. Contudo, mais ainda do que compreender esta realidade e aceitar galhardamente a bofetada ríspida, mas eventualmente pedagógica, do cartaz de Karlsruhe, devemos é partir duma severa e profunda auto-crítica para compreender qual deve ser o melhor caminho para saírmos do presente pântano. Que é económico e político, mas também social e mental.
 
 
E, muito sinceramente, não me parece que seja com ilusões do estilo "devemos ter mais Europa, sim, mas no  Ambiente, na Qualidade de Vida e no Emprego" (o bem bom, pois claro...) que vamos algum dia passar a ter uma visão mais construtiva e eficaz do que deve ser o nosso Futuro como País.
 
 
É muito fácil pegar agora no Euro e erguê-lo como bode expiatório. Como foi outrora fácil dizer que a Europa nos traria o Desenvolvimento que o Fascismo sempre nos negara. Não foi?


Saber analisar as causas profundas do falhanço europeu de Portugal, bem como dos restantes PIIGS - sobretudo os do chamado "Clube Med" -, é bem mais complicado. Mas indispensável e urgente, senão, daqui por uns dez anos, cá estaremos na mesma ladaínha, que já fazia desesperar o Ramalho e o Eça...