quinta-feira, 12 de setembro de 2013

O PROBLEMA DE FUNDO NÃO É O EURO


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 Este Verão está na moda, sobretudo entre os meios intelectuais ligados à Esquerda (mas não só), a discussão sobre as eventuais vantagens para Portugal caso se decidisse a saír do espaço da Moeda "única" europeia. Que, aliás, não é nada única, como todos sabemos, já que ainda nem sequer abrange dezoito dos atuais vinte e oito membros da União...
 
Esta discussão é interessante, sem dúvida, deveria até ter-se feito em devido tempo, quando Portugal decidiu aderir ao denominado "pelotão da frente" da U. E., mas não me parece adiantar grande coisa, agora, à solução política (e, consequentemente, económica e social) GLOBAL de que o nosso País carece urgentemente para poder ultrapassar um dos piores momentos da sua História recente,  desde o 25 de Abril. Tentarei muito brevemente explicar a seguir porquê.
 
A meu ver, não é o Euro que causa os problemas económicos a Portugal. No tempo do Escudo, os problemas portugueses eram já sensívelmente os mesmos e só o afluxo colossal de financiamento europeu, a partir de 1986, permitiu quase duas décadas de relativo crescimento económico e uma melhoria notória do nível médio de vida dos portugueses. Nada disto será no Presente recuperável, como que por magia, APENAS com o regresso a uma Moeda própria, como é óbvio.

O aumento (eventual) das Exportações nacionais associado à inerente desvalorização do Escudo face ao Euro de pouco vale, quando comparado com a verdadeira tragédia que seria, para a Economia portuguesa, não poder mais usar a forte Moeda europeia para custear as suas Importações, em especial o petróleo (mas não só).

Daí se poder concluír que, ao contrário do que sustenta o argumentário, quanto a mim básico e simplista, dos Partidos mais à Esquerda, como o BE e o PCP, mudar Portugal e a Sociedade portuguesa no sentido da Esquerda - ou do Progresso social, se preferirem - pouco ou nada tem a ver com a temática do Euro, ou mesmo com a atual Política europeia!

Trata-se antes de uma questão que envolve opções políticas puramente nacionais, de cariz estratégico, bem mais complexas do que as que dizem meramente respeito aos aspectos macro-económicos e que têm sobretudo a ver com:
 
1º) a diminuição das severas desigualdades socio-económicas atuais - uma questão que se coloca, por assim dizer, num "plano ortogonal" ao da (maior ou menor) "riqueza" do País, ou seja, que exige uma mudança radical, ainda que progressiva, da atual distribuição de rendimentos no sentido de uma significativa redução das disparidades, que entre nós não têm parado de crescer nos últimos quinze/vinte anos, de uma forma crescentemente "terceiro-mundista";
 
2º) a redução da atual ineficiência económica de todo o tecido produtivo português, INCLUINDO o Estado (mas não necessáriamente sobretudo dele), o que se prende, inevitávelmente, com uma melhoria significativa da eficácia tanto da aplicação da Justiça, como da sua percepção pública, bem como da regulação do mercado do Trabalho e da redução dos atuais níveis de corrupção económica e fiscal;
 
3º) a gradual "europeização" dos hábitos individuais e colectivos dos portugueses, quer no que respeita ao consumo e à poupança privados, quer PRINCIPALMENTE no tocante ao estilo de vida, absolutamente anti-económico, da generalidade das grandes urbes nacionais - posse massificada de casa própria, distâncias médias casa-trabalho (ou casa-Escola) absurdas, uso generalizado do transporte individual diário para as deslocações pendulares, ou seja, tudo somado, promovendo uma redução drástica daquilo a que hoje em dia toda a gente, mesmo sem entender mínimamente do assunto, se habituou a ouvir designar por "custos de contexto" do funcionamento do País.

E depois há também a magna questão da Cultura política, isto é, da participação cívica, da verdade eleitoral (défice de proporcionalidade intolerável decorrente do atual método de divisão do País em círculos eleitorais para as Legislativas), da confiança no sistema político em geral, da reorganização administrativa (a famosa Regionalização...), tudo questões que não se resolvem apenas por decreto, por serem também muito do foro das mentalidades, mas que, por seu turno, já foram há muito resolvidas satisfatóriamente no espaço do Euro e que, em Portugal, ninguém tem coragem para discutir com seriedade, quanto mais para enfrentar com determinação...

Não atentar nestas vertentes e preferir atirar todas as "culpas" da crise para a Europa (ou para a Doutora Merkel...) é continuar a malhar em ferro frio. Que, vendo bem, é só o que a Esquerda convencional tem feito desde o advento do chamado "Progresso" português, em 86: que em quase tudo mais não foi do que um "pugresso" falso, pacóvio, superficial e, acima de tudo, NÃO ESTRUTURAL, mas subsidio-dependente dos dinheiros comunitários!
 
Dos Partidos da atual Direita, óbviamente, nada há a esperar quanto à solução destes problemas estruturais de Portugal. Desde as trevas da Inquisição e do Antigo Regime, passando pelo Estado dito Novo, que as forças conservadoras e tradicionalistas nacionais, de um modo geral, se opõem ao Progresso, isto não é novidade para ninguém que entenda da História de Portugal um pouco mais do que o monocórdico desfiar dos Reis, por ordem cronológica e com os respectivos Cognomes...


Já dos Partidos de Esquerda, que supostamente são os herdeiros das ideias libertárias da Revolução Francesa, dos ideais democráticos e republicanos e das ideologias progressistas, agrupadas no largo chapéu do "Socialismo", acho que está mais do que na hora de deitar as suas velhinhas "cassetes" para o lixo e, bem depressa... meter um novo "CD-ROM" no seu "sistema operativo"!

Ou pretendem continuar eternamente a ver passar o comboio da História?

Acordai, teóricos de Esquerda, que dormis (a embalar a dor)...


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