terça-feira, 2 de outubro de 2012

PAGAR O QUE DEVEMOS (Fábula moderna, dedicada ao incansável João C. das Neves)



Imagine-se um belo "País" que, como uma família normal, vivia honestamente, trabalhava, poupava e morava numa modesta casa, hipotecada e da qual faltava ainda pagar, digamos assim, uma certa percentagem ao Banco que lhe concedera o crédito.


  Esse "País", a que doravante vamos chamar Lusitânio, também tinha um carro, adequado às suas necessidades, o qual havia comprado recorrendo a um empréstimo, estando ainda a alguns anos de concluir o respectivo pagamento.


   O Lusitânio e a sua Família, um belo dia, são confrontados com os Bancos a quem devem, os quais, súbitamente em apuros financeiros, exigem de chofre todo o dinheiro ainda em dívida.


    Aconselhando-se com as suas "melhores amigas", velhas matrafonas conhecidas lá no Bairro por Imprensa da Purificação e Maria da Comunicação Social, e com um velho professor seu (de Economia Doméstica), o Lusitânio concluíu convictamente que a melhor solução para a sua Família seria, de facto, empobrecer, efetuar "reformas estruturais", liquidar todas as suas dívidas e, assim, voltar a ser "competitivo", para poder recomeçar a "crescer"!


       E, se bem o pensou, melhor o fez: vendeu ao desbarato o carro e a casa, foi morar para um T1 na Rinchoa, tirou o Filho mais velho da Faculdade e o mais novo da Escola Técnica, despediu-se do seu emprego na outra banda, para não ter de comprar o passe social, e foi todo lampeiro ao Centro de Emprego mais próximo, sentindo-se agora muito mais "competitivo", procurar um trabalho a preceito lá no seu Bairro...


        Algo intrigado, ao cabo de algumas semanas descobriu afinal que, sem dinheiro para se vestir e calçar decentemente, nem sequer para se barbear, o único "emprego" que conseguiu arranjar foi o de... "arrumador de carros" em Albarraque, no "turno" das dez às duas da noite!


      E, assim, lá teve ele de explicar à sua Mulher que, agora sim, tinha o seu nome de novo limpo no "mercado", podia voltar a poupar e, um dia, fazendo bem as contas, talvez daqui por uns setenta anos, conseguiria voltar a pôr os Filhos de novo a estudar e até, eventualmente, a comprar uma biciclete usada, para não ter de ir trabalhar descalço!


     E foi, muito contente, agradecer a todos os que lhe tinham indicado o rumo certo para a sua vida e lhe haviam ajudado a voltar ao "bom caminho"...


        Infelizmente, quando chegou a casa nesse dia, a sua Mulher e os seus Filhos, uns ignorantes e mal-agradecidos, tinham-lhe preparado uma surpresa que o pobre Lusitânio nunca mais pôde esquecer nos dias da sua miserável e triste vida: UM VALENTE CHUTO COLECTIVO NAQUELA PEIDA!

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